Cartao de credito
Artigo

Governo proíbe cartão de crédito nas bets

20 dez. 2024

Estamos diante do fim do uso de cartão de crédito nas apostas online. Vamos explorar por que a medida foi tomada e qual o seu impacto.

Lucas Oliveira
Especialista em Apostas

Nova Lei, Novo Cenário para Apostadores

Se você é apaixonado por apostas esportivas, já deve ter percebido que o jogo mudou: a nova lei das apostas online foi aprovada e entra em vigor a partir de 2025.

São várias as alterações previstas nessa lei, mas neste artigo nosso foco será a proibição do uso de crédito nas apostas online. É verdade, as casas de apostas não podem mais aceitar cartão de crédito para depósitos. Para muitos, essa decisão parece uma barreira, mas, olhando mais de perto, é uma oportunidade de evitar problemas e evoluir como apostador.

O que me diz minha experiência?

Vou começar com uma verdade que aprendi em 15 anos apostando: nunca vi uma casa de apostas falir por seus clientes estarem ganhando muito dinheiro. Agora, apostador rebentando sua banca? Isso eu vi, e muito. Eu mesmo já cometi erros no passado, mas aprendi na marra. A regra número um é simples:

Nunca aposte dinheiro que você não pode perder – muito menos dinheiro que não é seu.

Por que o governo baniu o cartão de crédito?

A resposta é clara: realizar apostas online utilizando crédito tornou-se um problema crescente ao longo dos anos. Cada vez mais brasileiros estavam se endividando na tentativa de obter grandes retornos com apostas esportivas e jogos de cassino.

Vamos explorar como essa questão se agravou, os impactos negativos para os apostadores e por que o banimento do uso de crédito é fundamental para promover o jogo online como uma forma de entretenimento saudável, alinhada ao conceito de Jogo Responsável.

O boom do crédito nas bets

As apostas online com cartão de crédito começaram a ganhar força no Brasil por volta do final de 2020. Foi nessa época que as apostas esportivas explodiram em popularidade no país, e muita gente começou a buscar maneiras de montar bancas maiores e continuar apostando sem precisar esperar o próximo salário cair na conta. O cartão de crédito acabou se tornando, na prática, a solução mais fácil e acessível para isso.

Evolução do número de pesquisas no Google por "casas de apostas que aceitam cartão de crédito" (dados KWFinder)
60
770
1640
2020
2050
4340
5620
3440
2400
10/20
04/21
10/21
04/22
10/22
04/23
10/23
04/24
10/24

Como pode ser observado no gráfico, o interesse por apostas online utilizando cartão de crédito cresceu de forma significativa, atingindo seu pico em 2023, com uma média superior a 4.000 buscas mensais ao longo do ano. As casas de apostas rapidamente perceberam a grande demanda por esse meio de pagamento, que se tornou uma prática comum. Antes da regulamentação, mais de 20 sites de apostas altamente populares no Brasil já aceitavam depósitos por meio de cartão de crédito.

Apesar de ser muito difícil estimar o número exato de apostadores que utilizam crédito para depositar, o economista Campos Neto estima que, em 2024, entre 10 a 15% dos depósitos feitos nas bets brasileiras foi através de cartão de crédito. Esses números são preocupantes e exigiram uma ação do governo.

Além disso, um estudo da fintech Klavi revelou que 29% dos brasileiros que buscaram empréstimos em 2023 também fizeram depósitos em casas de apostas, o que demonstra que o endividamento está se tornando um fator de risco crescente para muitos consumidores.

Outros dados para refletir
  • De acordo com estudos globais, cerca de 80% dos jogadores recreativos perdem dinheiro a longo prazo, enquanto apenas uma pequena parcela consegue resultados consistentes.
  • Um levantamento de 2021 revelou que 1 em cada 3 apostadores problemáticos usavam crédito para financiar suas apostas, agravando suas dívidas.
  • Países como o Reino Unido e a Austrália já adotaram medidas semelhantes, com resultados positivos em termos de redução de endividamento e adoção de práticas de jogo mais responsáveis.

Os relatos de um apostador

Apostar com cartão de crédito criava uma armadilha perigosa. Era como brincar com dinheiro emprestado – só que, no Brasil, esse “empréstimo” vinha com juros altíssimos.

O rotativo do cartão pode chegar a mais de 400% ao ano, um dos maiores índices do mundo.

Isso significava que qualquer perda na aposta vinha acompanhada de uma conta ainda maior no fim do mês. E pior! Muitos apostadores, confiando no limite de crédito, acabavam apostando mais do que realmente podiam pagar. O resultado? Dívidas crescentes, dificuldades financeiras e, em casos extremos, problemas sérios de saúde mental, como ansiedade e depressão, associados ao endividamento.

O Site de Apostas conversou com Marcos, um apostador de 37 anos de Belo Horizonte, que compartilhou sua experiência. Ele conta:

"Tudo começou quando fui seduzido pela ideia de que apostas esportivas eram uma forma rápida de ganhar dinheiro. Entrei nos grupos de Telegram, vi pessoas supostamente lucrando e me joguei de cabeça. Depositei R$10 mil com o cartão de crédito e comecei a seguir as apostas do pessoal. No começo até parecia que tava indo bem, mas logo vieram os ‘reds’ e eu não sabia como sair disso. Percebi que muitos dos ganhos que mostravam no grupo eram falsificados, mas já era tarde. Agora, me vejo pagando a dívida com juros absurdos e pensando que fui um idiota."

O banimento do cartão de crédito é positivo, mas o problema está na mentalidade do brasileiro, que acha que vai ficar rico da noite pro dia. Mudar isso vai ser complicado.

Marcos está agora acabando de pagar sua dívida, que com os juros do cartão, ultrapassou o total de R$20 mil. Ele explica que o pior de tudo não foi perder o dinheiro, mas como o jogo afetou sua vida financeira e emocional. “Fiquei mais de um ano pagando o mínimo do cartão, só para os juros aumentarem. Tive de me esforçar muito para acabar com esse efeito bola de neve, e isso acabou tendo um grande impacto em mim.

Lei e foco no Jogo Responsável

Para enfrentar o problema do endividamento e o impacto negativo das apostas, o governo brasileiro incluiu na legislação a proibição de depósitos com cartão de crédito em casas de apostas. Contudo, essa é apenas uma das várias medidas em andamento para promover o Jogo Responsável no Brasil e mudar a mentalidade dos apostadores.

O objetivo principal é que as apostas sejam vistas por todo o mundo como uma forma de entretenimento, e não de enriquecimento. Para isso, o governo, casas de apostas e entidades públicas estão colaborando em iniciativas como:

  • Promoção do Jogo Responsável: Incentivando a conscientização sobre os riscos do vício e a importância de limites financeiros e emocionais ao jogar.
  • Regulamentação da Propaganda: Estabelecendo regras mais rígidas para anúncios de apostas, com o foco em proteger grupos vulneráveis, como jovens e pessoas com histórico de endividamento.
  • Proibição para Menores de 18 Anos: Reforçando mecanismos de controle para evitar que menores tenham acesso ao jogo, incluindo exigências mais rigorosas de verificação de identidade.

Marcas como a Betnacional já focam suas propagandas no Jogo Responsável

O que muda para nós apostadores?

Sem cartão de crédito, o jogo virou. Agora, quem quer apostar precisa usar o que realmente tem na conta: Pix, débito, transferência... ou seja, dinheiro vivo. Isso pode parecer uma barreira no começo, mas é uma chance de repensar como lidamos com as apostas. Sem crédito, a tentação do "ganho fácil" perde força, e a estratégia ganha espaço.

Antes de qualquer coisa, a pergunta é: “Posso perder esse valor sem me complicar financeiramente?” Se a resposta for "não", você já sabe: é melhor nem apostar. A gente precisa lembrar que as casas de apostas têm a vantagem matemática do lado delas. A nossa missão, enquanto apostadores, é minimizar perdas, buscar lucros realistas e, acima de tudo, aproveitar como diversão.

Essa proibição, na verdade, é um convite para sermos mais profissionais. Não adianta jogar por impulso. Quer melhorar? Então anota aí:

Planejamento financeiro

Defina um valor mensal que você pode gastar com apostas sem comprometer suas finanças. Essa quantia deve ser tratada como um "orçamento de lazer". Assim, você mantém o controle e não se coloca em situações de risco desnecessário.

Conhecimento das odds

Não aposte no escuro! Entender as probabilidades (odds) e o funcionamento do mercado é essencial. Nem sempre a aposta que parece mais lucrativa é a melhor escolha. Busque informações, analise os jogos e use a matemática a seu favor.

Controle emocional

Saber parar é tão importante quanto saber começar. Perdeu? Não tente recuperar no mesmo dia. Está ganhando? Não deixe a ganância falar mais alto. O equilíbrio emocional é o que separa um bom apostador de alguém que só acumula prejuízo.

No fim, o mais importante é lembrar: ninguém fica rico do dia para a noite com apostas. Jogar com responsabilidade não é só uma questão de lei, é um compromisso com você mesmo.